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14 outubro 2024, 23h55

Grande Torino: 75 anos de Lenda

Retratos da malograda comitiva do Torino

Três quartos de século após a tragédia de Superga, na segunda-feira, 14 de outubro, o Museu Benfica – Cosme Damião inaugurou Grande Torino: 75 Anos de Lenda, uma exposição que recorda o antes e o depois de um dos mais tristes momentos da história do futebol mundial.

A história do Sport Lisboa e Benfica está repleta de momentos épicos, recordados com muito orgulho e felicidade. Lamentavelmente, o registo histórico de um clube lendário como o nosso não se faz – nem se fez – somente de instantes felizes, mas também de algumas ocorrências trágicas.

Aquela que dá origem a uma nova exposição no Museu Benfica – Cosme Damião faz parte deste último lote. O nome Grande Torino: 75 Anos de Lenda remete-nos imediatamente para uma das maiores tragédias não só do futebol, mas de todo o desporto mundial.

Na década de 1940, os italianos do Torino eram uma das melhores equipas da Europa. Mesmo ainda não havendo competições europeias – surgiram em meados dos anos 50 –, a crítica da altura era unânime sobre poderio da formação do Norte de Itália. A dar força a essa sensação está o palmarés do clube, que, nessa altura, registava 4 Campeonatos de Itália seguidos, estando a caminho do pentacampeonato.

No dia 27 de fevereiro de 1949, oito jogadores do Torino, entre os quais Valentino Mazzola, ao serviço da Squadra Azzurra, defrontaram a seleção nacional portuguesa, em Génova. Presente esteve também Francisco Ferreira, jogador do Benfica. O então capitão das águias e o jogador dos granata, que tinham uma forte amizade, acordaram um encontro entre os seus emblemas, que serviria, também, de jogo de despedida do futebolista encarnado.

Grande Torino: 75 anos de Lenda

Assim, no dia 3 de maio de 1949, Benfica e Torino subiram ao relvado do Estádio do Jamor para o tal duelo. Os encarnados venceram, por 4-3, com golos de Melão (23’ e 29’), Arsénio (33’) e Rogério Pipi (40’), enquanto Ossola (9’), Bongiorni (37’) e Romeo Menti (44’, de grande penalidade) marcaram os tentos dos italianos.

Na hora de regressar a casa, no dia 4 de maio, o avião que transportava a comitiva do Torino despenhou-se em Superga, passavam poucos minutos das 17:00 em Itália. Ninguém sobreviveu. Era o fim de uma das melhores equipas do século XX. Nascia então a lenda do Grande Torino.

Nunca se saberá até onde poderia ter chegado este grupo de jogadores, mas sabe-se que todos eles gravaram os seus nomes nos corações de Benfica e Torino. Como muitas vezes acontece em momentos desta natureza, da tragédia floresceram laços inquebráveis entre os dois emblemas, que ano após ano continuam a lembrar a tragédia, homenageando aqueles que sucumbiram a tão grande drama.

Grande Torino: 75 anos de Lenda

LAÇOS INQUEBRÁVEIS QUE NASCERAM DE UMA TRAGÉDIA

Com tanto para recordar e não esquecer, estava dado o mote para um final de tarde muito especial no Museu Benfica – Cosme Damião, marcado pela inauguração da exposição que tem como nome Grande Torino: 75 Anos de Lenda e, claro está, pela confraternização entre elementos dos dois clubes e países.

Dividida em dois momentos, a cerimónia começou com uma pequena apresentação no Auditório do Museu Benfica – Cosme Damião. O presidente do SLB, Rui Costa, foi um dos presentes, assim como vários elementos dos órgãos sociais, e alguns familiares de figuras emblemáticas da história do Clube que já não estão entre nós. Na plateia também surgiram outras caras conhecidas do universo encarnado, entre os quais alguns ex-jogadores, como Carlos Manuel, Isaías, Vítor Martins ou António Bastos Lopes.

Antes das palavras, foi visualizado um pequeno filme evocativo da história de amizade entre o Benfica e Torino, pré e pós-acidente. Assistida com enorme silêncio, a película só pelas palmas foi interrompida, que serviram de intervalo para o próximo momento: a subida de Jonathan Mongelos ao palco, cantor lírico que entoou uma cantiga que homenageia os malfadados jogadores desse Torino dos anos 40, que tem como nome Ma’n fiur l’aviu. No fim da música, Jonathan Mongelos invocou o nome de cada um dos malogrados atletas.

Grande Torino: 75 anos de Lenda

A honra de abrir os discursos coube a Claudio Miscia, embaixador de Itália em Portugal, que fez questão de explicar o motivo do timing desta exposição: "O Ministério dos Negócios Estrangeiros de Itália teve a ideia de comemorar o Dia do Desporto Italiano pelo Mundo. Para nós, esse dia em Portugal era, obviamente, para relembrar essa tragédia do desaparecimento do Grande Torino, que faz 75 anos. Porque eles saíram de Lisboa... Quando nos reunimos pela primeira vez, ficou claro que tínhamos de pedir ao Museu Benfica – Cosme Damião para nos ajudar, e depois ao Museo de Grande Torino e della Leggenda Granata."

Claudio Miscia lembrou que "a equipa do Grande Torino coincidia quase na totalidade com o elenco da seleção italiana", e deu um exemplo do impacto que a tragédia teve no futebol transalpino."No ano seguinte, a seleção italiana tinha de se deslocar ao Brasil para jogar o Mundial 1950, e os jogadores não quiseram ir de avião, mas, sim, de navio. Acontece que todas as bolas que a comitiva tinha levado acabaram no mar e não puderam seguir para os treinos", recordou.

Grande Torino: 75 anos de Lenda

Continuando em sotaque italiano, Domenico Beccaria, membro do Museo de Grande Torino e della Leggenda Granata, focou-se noutros efeitos do acidente de Superga: "Estamos a recolher os frutos daquele jogo, que aconteceu há 75 anos. O valor mais alto do desporto é a amizade. O desporto junta e não divide. Se hoje estamos aqui, é por causa desses valores de amizade. Normalmente, somos nós a escolher as nossas amizades, mas, desta vez, foi a amizade que nos escolheu [numa alusão à relação entre pessoas do Benfica e do Torino]. E esta é ainda mais especial, pois tem as origens num dia trágico. Viva o Benfica! Viva o Torino! Viva o Desporto!"

Pela parte do Clube, foi o vice-presidente Jaime Antunes quem subiu a palco para falar sobre este momento icónico. Primeiramente, destacou o homenageado naquele dia 3 de maio de 1949: "Carinhosamente apelidado por Chico Ferreira, não era um jogador qualquer. Segundo todos os relatos, foi daqueles que mais personificaram o que costumamos qualificar como jogador à Benfica."

Grande Torino: 75 anos de Lenda

Jaime Antunes recordou, também, que o Benfica ficou "inadvertidamente associado a uma das maiores tragédias da história do futebol mundial", lembrou que, na altura, o mesmo "decretou oito dias de luto", e falou no dever do Clube para com o emblema de Turim.

"O Sport Lisboa e Benfica deve sempre homenagear o Grande Torino. Os nossos milhares de adeptos, que, mal souberam da tragédia, se deslocaram à embaixada de Itália em Lisboa, são os mesmos que, sempre que o Benfica joga em Turim, fazem questão de visitar a Basílica de Superga. Lembrar o Grande Torino não restituirá a vida àqueles que a perderam no fatídico 4 de maio de 1949, mas torna-os, como merecem, presentes nas nossas mentes quando pensamos nas grandes figuras da história do futebol mundial", enalteceu.

Terminadas as intervenções, foi então hora de conhecer e interiorizar esta exposição, que estará disponível para visitar até ao – não inocentemente – dia 4 de maio de 2025.

Grande Torino: 75 anos de Lenda

17 PEÇAS EM EXPOSIÇÃO REPLETAS DE SIMBOLISMO

O presidente, Rui Costa, percorreu-a acompanhado por Luís Lapão, curador do Museu Benfica, Andrea Ragusa, investigador e o realizador do documentário Benfica-Torino 4-3, e por Domenico Beccaria, do Museo de Grande Torino e della Leggenda Granata. O embaixador italiano Claudio Miscia e os elementos dos órgãos sociais presentes também os acompanharam. Juntos, e rodeados por dezenas de convidados, tomaram contacto com as peças expostas, não ficando indiferentes ao seu significado.

Entre os 17 artefactos em exibição, há uns que chamam mais a atenção do que outros. Como, por exemplo, a mala de viagem do jogador Virgilio Maroso; a Taça Olivetti, o troféu oferecido ao clube vencedor do jogo de homenagem a Francisco Ferreira; as botas de Francisco Ferreira; os retratos de todos os 27 elementos do Torino que perderam a vida no acidente, ou as camisolas das seleções portuguesas e italianas dos anos 40.

Grande Torino: 75 anos de Lenda

Durante esta confraternização, tiraram-se fotos e trocaram-se lembranças. Um momento de salutar convivência desportiva, entre dois dos mais emblemáticos clubes do século XX. Tal como disse Domenico Beccaria, uma bonita amizade nasceu de uma tragédia, e o dia da inauguração desta exposição é demonstração factual disso mesmo.

Por cima de todas as peças, e, naturalmente, de todos os que visitaram e irão visitar o espaço, está a inscrição que utilizamos para titular e também terminar esta reportagem sobre a exposição Grande Torino: 75 Anos de Lenda, que fala por si e por tudo o que engloba esta ligação Benfica-Torino: “Tragedia non é morire mas dimenticare. Noi non dimentichiamo [A tragédia não é morrer mas, sim, esquecer. Nós não esquecemos].” Porque só nós sentimos assim.

Texto: João André Silva
Fotos: Tânia Paulo / SL Benfica
Última atualização: 16 de outubro de 2024

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