Futebol

30 novembro 2024, 14h26

Bruno Lage

Bruno Lage

ANTEVISÃO

Na sequência do grande triunfo europeu alcançado pelo Benfica no Mónaco (2-3), Bruno Lage expôs que as ilações positivas retiradas desse compromisso, mas também do trabalho desenvolvido ao longo dos últimos três meses, fornecem otimismo às águias para o compromisso deste domingo ante o Arouca (18h00, no Estádio Municipal de Arouca), relativo à 12.ª jornada da Liga Betclic. "Isso é que nos dá a confiança e a responsabilidade de prolongarmos este nosso momento", sublinhou.

"Frente a um adversário muito competente, que gosta de ter bola", e que conta com um treinador (Vasco Seabra) que "já provou, no ano passado, que é muito competente e que pode vencer as equipas grandes", o técnico benfiquista enalteceu que "a visão a longo prazo tem de ser naqueles 90 minutos", ambicionando "jogar com qualidade e vencer".

Assumindo-se muito "satisfeito" com as opções para o eixo da defesa no plantel encarnado e com as prestações dos avançados da equipa, Bruno Lage revelou, já no final da conferência de Imprensa, que "Beste já está recuperado".

Questionado sobre a gestão de Di María, mas também a do capitão Otamendi, Bruno Lage – que congratulou o defesa pela nomeação para o Onze do Ano dos prémios The Best – garantiu que ninguém "tem tratamento especial". "Temos é de olhar para cada um deles, enquanto indivíduos, a forma como recuperam, porque há jogadores que recuperam melhor do que outros, em particular com três ou quatro dias de intervalo entre os jogos, e depois tomar as melhores decisões em função disso", explanou.

Bruno Lage

De que forma é que a reviravolta no último jogo [vitória no Mónaco por 2-3] impactou animicamente a equipa do Benfica? Espera que essa confiança e esses sentimentos positivos se possam refletir no jogo em Arouca?

Não é só o sentimento que trazemos do último jogo. É o sentimento que trazemos dos últimos três meses, isso é que é o mais importante. É olharmos para trás, e a cada momento termos oportunidade de evoluir e de crescer. Fizemos mais uma reviravolta, no Mónaco, foram três preciosos pontos, e deu-nos essa felicidade momentânea de vencermos esse jogo. Aproveito a sua questão para olhar um pouco para trás, para aquilo que foram estes três meses. São três meses, mas são três meses de muito trabalho. Só para vocês terem uma ideia, nestes últimos três meses nós tivemos 58 treinos; desses 58 treinos, tivemos 23 com o plantel completo; e desses 23, quer treinos a seguir ao jogo, quer treinos como o do dia de hoje, antes do jogo, para treinar aquilo que são as nossas dinâmicas, tivemos 9 treinos. São 9 treinos em três meses. Portanto, não é só olhar para o que de bom aconteceu no Mónaco, é olhar, sim, para aquilo que de bom nós temos vindo a fazer nestes três meses. Isso é que nos dá a confiança e, também, a responsabilidade de amanhã [domingo, 1 de dezembro] continuarmos e prolongarmos este nosso momento.

Bruno Lage

"O compromisso tem de ser o jogo de amanhã [domingo], frente a um adversário muito competente, que gosta de ter bola"

Bruno Lage

Tem sido notório o aumento do rendimento de Di María desde que Bruno Lage chegou ao Benfica, e muito se tem associado esse facto à gestão que tem feito do jogador. Di María é a peça-chave deste Benfica? É o jogador do plantel de que mais gestão precisa da sua parte para continuar com este bom rendimento?

Aquilo que é de realçar é o rendimento da equipa, porque, realmente, estamos muito satisfeitos com toda a gente. Falando do Di María, estamos muito satisfeitos com ele, porque, realmente, é um grande jogador. Tenho agora o prazer de trabalhar com ele e de perceber que também é um grande homem, e o exemplo disso é vê-lo, nos últimos minutos [do Mónaco-Benfica], sentado no banco e a sofrer tanto, quase como se de uma final do Campeonato do Mundo se tratasse. A forma como ele sofria e, depois, comemorou a vitória com os colegas... A gestão é olharmos para cada um de forma individual e perceber qual é a melhor maneira de tirar o rendimento dos jogadores, por isso, é como lhe disse anteriormente. Ele não tem tratamento especial, temos é de olhar para cada um deles, enquanto indivíduos, a forma como recuperam, porque há jogadores que recuperam melhor do que outros, em particular com três ou quatro dias de intervalo entre os jogos, e, depois, tomar as melhores decisões em função disso.

Em menos de um mês, o Benfica vai ter sete jogos. A gestão que tem feito de Di María tem feito toda a diferença. Admite poupar o jogador, deixando-o de fora de alguns jogos, para estar mais forte, mais apto, para jogos decisivos da Liga dos Campeões, para o jogo com Sporting, também, por exemplo? E também o objetivo daquela roda no final do jogo: foi uma mensagem para dentro, ou para fora, para os adeptos?

Vou começar pela roda. Não foi mensagem, nem para dentro, nem para fora. No meu entender, aquilo que se passou foi, simplesmente, um ato de liderança. Terminou o jogo, eu cumprimento o 4.º árbitro, vou em direção ao meio-campo para cumprimentar o árbitro, e senti, realmente, uma grande alegria e um grande sentimento de dever cumprido. E aquilo que fiz foi exatamente isso, foi elogiar pelo esforço da vitória, transmitir crença no processo, no trabalho, no treino, e, depois, de visão. Felizes por aquela vitória, mas há um futuro pela frente como referiu, de 7/8 jogos até ao final do ano, que são muito importantes para nós. Mais do que comunicar, acho que foi um ato de liderança que senti que devia ter feito naquele momento. Porque a nossa natureza tem de ser essa, nós ficámos felizes pela vitória que fizemos no Mónaco, mas não podemos estar satisfeitos. Quem treina o Benfica não pode estar satisfeito com isso, e a nossa visão tem de ser mais. Por isso é que tenho dito nos últimos tempos que o nosso objetivo em termos de Campeonato, até ao final deste ano, com os jogos que temos pela frente, é chegar ao 2.º lugar e reduzir distâncias para o 1.º. Sobre a primeira pergunta, a gestão tem de ser de todos, porque temos de ter esta visão, mas, simultaneamente, temos de ter os olhos na bola, e os olhos na bola é o jogo de amanhã [da 12.ª jornada da Liga Betclic, frente ao Arouca]. Isso é que é o mais importante, por isso, a gestão tem de ser diária. O Di María não jogou com o Bayern Munique, não para ser poupado para os jogos seguintes, mas porque eu acreditei que aquela era a melhor estratégia e o melhor onze para aquele jogo. É assim que vou decidindo, a cada momento, o rendimento dos jogadores, perceber como é que eles [os jogadores] recuperam. Porque nós não temos margem de erro nas competições que enfrentamos. Por isso, a gestão tem de ser diária, e o compromisso tem de ser o jogo de amanhã [domingo, 1 de dezembro]. E o jogo de amanhã é frente a um adversário muito competente, que gosta de ter bola. Acabei de ver vários jogos do Arouca, pelo menos, agora com o Vasco [Seabra]. Vi o jogo com o SC Braga [1-2, a favor dos arsenalistas], em que o Braga faz um bom jogo e vence o Arouca, mas o Arouca também faz um belíssimo jogo, tem mais posse de bola. O Vasco já provou no ano passado que é um treinador muito competente e que pode vencer as equipas grande. Por isso, amanhã [domingo], o nosso jogo de Champions e a nossa visão a longo prazo tem de ser naqueles 90 minutos, de jogar com qualidade e vencer o jogo. Aproveito também para referir que, sobre a gestão do plantel, penso que o único jogador que, connosco, nos últimos três meses, ainda não jogou foi o Tiago [Gouveia], por lesão. Todos eles já tiveram a oportunidade de jogar.

Bruno Lage

"Ficámos felizes pela vitória que fizemos no Mónaco, mas não podemos estar satisfeitos. Quem treina o Benfica não pode estar satisfeito com isso, e a nossa visão tem de ser mais"

Relativamente à gestão que tem de fazer, olho para outro jogador, outro argentino, Otamendi, que é dos mais veteranos da equipa. Muitas viagens, joga 90 minutos pela seleção, faz 90 minutos pelo Benfica, imagino que seja um jogador que se cuide muito, mas não vê necessidade de haver alguma rotação devido a esta densidade competitiva imensa, em que os jogadores podem estar à beira de lesão?

Está a tocar no Nico [Otamendi], e o Nico tem, realmente, sido um campeão. Até aproveito para reforçar a sua questão, no sentido em que ele está nomeado para o melhor onze da FIFA. É um privilégio ter jogadores deste calibre no nosso plantel. O Nico regressou da seleção da Argentina com um pequeno toque – se calhar, vinha com ideia de recuperar bem para o Mónaco –, e, quando percebeu que o Tomás [Araújo] não estava disponível para o jogo, deu dois passos em frente para jogar o jogo com o Estrela da Amadora. Por isso, é um bocadinho de tudo, mas, fundamentalmente, da mentalidade. Há outra coisa que ajuda na recuperação, que são os resultados. Resultados positivos, exibições positivas, ajudam. O Nico tem tido um bom rendimento. Acho que na linha defensiva – dei os parabéns, hoje, aos jogadores, porque os quatro [Bah, Tomás Araújo, Otamendi e Álvaro Carreras] estiveram muito bem – toda a gente tem trabalhado bem, quer aqueles que têm jogado mais, como os que têm jogado menos, porque é um trabalho que nós levamos muito a sério. Realmente, tinha de ser em unidade: a correr as corridas juntas, e a correr as corridas horizontais e as verticais. E eles estiveram muito bem nisso, porque só uma linha defensiva coesa, como foi a nossa, é que poderia travar os ataques verticais e a velocidade do Mónaco. A jogar de três em três dias, e de quatro em quatro dias, há sempre o risco de lesão. Por isso é que eu disse: nós temos de olhar para cada um deles e, independentemente da idade, há jogadores que recuperam melhor do que outros. Dois bons exemplos de dois jogadores que recuperam muito bem: um é o Nico, outro é o Fredrik [Aursnes]. Recuperam bem e, ao segundo, terceiro dia, já notam sinais de uma recuperação muito boa. Tem, fundamentalmente, a ver com a forma como se tratam fora de campo.

Pegando na questão do rendimento dos jogadores e do que podem dar em campo, Arthur Cabral, nestes dois últimos jogos, foi um jogador fundamental no Benfica, não só pelos golos, mas por aquilo que conseguiu fazer em campo. Que planos é que tem para Arthur Cabral? Acaba por ser uma ameaça à titularidade de Pavlidis, até então cimentada? A questão aqui dos centrais, vários rumores que surgem do mercado, quer para António Silva, quer também para Tomás Araújo, e ainda falávamos há pouco de Otamendi e da idade e tudo mais. Já há algum plano B no mercado? Que planos tem neste mercado de janeiro? Pensa em ir buscar algum central neste mercado?

Sobre os centrais, acho que é um assunto fechado. Estamos muito satisfeitos. Temos o Nico [Otamendi], que é da seleção argentina e campeão do mundo; temos dois centrais jovens, formados na casa, que representam também a Seleção Nacional; e ainda temos um miúdo, que é o Adrian [Bajrami], que está a aprender com estes três, por isso, esta é a nossa política. Ter sempre gente competente de fora, gente competente a ser formada em casa e gente nova a aprender, por isso não há plano B, pelo menos de fora, para nada. O que temos sempre em vista são os miúdos que chamamos constantemente para treinar connosco nas variadíssimas posições. É reforçar aquilo tenho dito. Tenho dito isto, não há lugares garantidos, e é – e tem de ser – em função do rendimento, por isso o Arthur [Cabral] não ameaça ninguém. O Arthur, o Zeki [Amdouni] e o Pavlidis trabalham é para a equipa. Há uns tempos falava-se da crise de avançados, e, agora, olhamos e, no último jogo [frente ao Mónaco], cada um deles marcou o seu golo, e com movimentos de ponta de lança muito interessantes. Isso é que nos deixa satisfeitos. É a equipa... Os pontas de lança estão a aprimorar certos movimentos que eu gosto que eles façam na área. Os golos de cabeça não surgem por acaso, porque eles têm trabalhado muito, e, depois, ter jogadores competentes, quer na ala direita, quer na ala esquerda, que vão conseguir encontrar os avançados para marcar golos. Isso é que me deixa satisfeito, é olhar para os avançados e sentir que temos o Pavlidis com seis golos, o Arthur já com quatro e o Zeki com quatro. Isso é que é importante para a equipa.

Bruno Lage

"A gestão é olharmos para cada um de forma individual e perceber qual é a melhor maneira de tirar o rendimento dos jogadores"

Puxando um bocadinho atrás a fita, sobre Di María e o rendimento do jogador: tem 36 anos, está numa das melhores fases desta nova passagem pelo Benfica nos últimos jogos, e já está provado, também, que é uma das melhores fases com Bruno Lage. Perguntava-lhe muito diretamente se já falou com o jogador, ou com Rui Costa, para planear já uma renovação do contrato de Di María, que acaba no fim desta temporada? No caso, imagine-se, de Di María não querer continuar, ou até mesmo terminar a carreira, ele há uns dias disse que começou a tirar o curso de treinador. Gostava de contar com ele na equipa técnica como adjunto?

A resposta é aquela que vocês [jornalistas] às vezes ficam cansados de nós repetirmos, mas acho que tem de ser o jogo a jogo. Acho que é tão mais gratificante ver o que ele está a fazer do que estar a projetar o futuro. Ainda faltam, pelo menos, sete meses para acabar a época. Por isso, a nossa exigência para com ele é igual à dos outros, é tirar o melhor partido dele, e, realmente, estamos muito felizes, particularmente no banco. Ainda há um tempo, um colega seu perguntou-me se era o melhor golo [bicicleta frente ao Estrela da Amadora] que eu tinha visto ao vivo. Não sei se foi o melhor golo que eu tenha visto ao vivo enquanto treinador, mas é, de certeza, um golo que nos vai marcar e que nós vamos recordar para sempre, que é o golo de bicicleta do Di María. Ainda hoje [sábado, 30 de novembro] o Prestianni marcou um golo de bicicleta, e, como ele é tão pequenino, o Nico [Otamendi] já estava a dizer que era um golo de triciclo, que não era de bicicleta, porque de bicicleta era o do Di María. Este é o estado de espírito que nós temos e é o momento que estamos a viver. Por isso, vamos viver o momento e cá estaremos, particularmente eu, para ajudar o Di María naquilo que for. Mas sempre para decidir aquilo que eu acho que é o melhor para a equipa. [Contar com Di María na equipa técnica] Se temos o Ricardo Rocha, podemos ter também o Di María, um dia, no banco. São jogadores com uma enorme experiência. O Ricardo Rocha tem tido um papel muito determinante no nosso trabalho, com a linha defensiva, com os esquemas táticos... São tudo jogadores, e com experiência de jogador, que nos ajudam a ser uma equipa técnica mais forte. Mas vamos é desfrutar do momento, e Deus queira que ele continue a jogar por muitos mais anos, porque tem competência, e a forma como ele vive o futebol, a forma apaixonada como ele vibrou no último jogo [frente ao Mónaco]... Se vocês forem ver os momentos em que ele está ali no banco, a vibrar com o faltar um ou dois minutos para terminar o jogo, e o salto que ele faz para dentro das quatro linhas quando termina o jogo, é de alguém que está a desfrutar do momento e que está a gostar de jogar pelo Benfica.

Já disse nesta conferência que um dos objetivos até ao final do ano é recuperar pontos ao Sporting e ficar com o 2.º lugar da tabela. Para isso acontecer, é preciso que os seus rivais percam pontos. É só uma questão de fé, ou acredita que Sporting e FC Porto vão ter quebras acentuadas para o Benfica se aproximar?

É uma questão de crença no nosso trabalho. Foi isso que passei no final do jogo [Mónaco-Benfica], porque se nós conseguirmos, até ao final do ano, vencer os nossos jogos, vamos conquistar o 2.º lugar e vamos reduzir a distância pontual para o 1.º classificado. Por isso, é crença naquilo que é o nosso trabalho, que isso é que é o mais importante.

Texto: Redação
Fotos: Tânia Paulo / SL Benfica
Última atualização: 30 de novembro de 2024

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